sábado, 18 de setembro de 2010

Restabelecimento



Deitei naquela cama durante horas entre aquelas paredes de concreto, aparelhos e tubos de remédios. Durante horas me perguntei se era possível preencher vazio com vazio e confesso que não cheguei à resposta alguma, mas aquela sensação de que todo meu vazio estava sendo preenchido com nada continuava. É, isso mesmo! Preenchido com nada! Também não consegui entender o que acontecia, apenas acontecia. Trocava os canais da televisão de segundo em segundo, não sossegava por nada, procurava alguma coisa que não estava ali naquele caixote eletromagnético. Em quatro momentos daquela noite que me mantive acordada e inquieta, pensei ter sentido alguém tocar meu rosto... Alguém tocou meu rosto, um toque extremamente quente em uma pele tão gelada.

– Luana, você não está melhorando, está?

   A pergunta era um tanto óbvia, mas o simples fato de ter perguntado já era muito mais que alguma coisa, muito mais que apenas nada. Eu tinha muitas vontades naquela noite... Vontade de beber demasiadamente, fumar até me faltar ar, fazer alguma coisa bem louca, correr embaixo de chuva sozinha e sem direção. Mas quando aquela mão segurou a minha... Ah, aquela mão! Todas as outras vontades caíram no chão quebrando em pedaços todo aquele piso azulejado.
   Acredita que o toque de uma mão na outra consegue derrubar tanta coisa sem sentido? Mas acredita também que o toque da mesma mão nessa outra mesma mão consegue fazer ter mil vontades loucas de puxar e correr o mundo inteiro? Parece que as coisas sem sentido tomam um rumo novo quando uma mão toca a outra. Eu acordei, e a geladeira está vazia, a última gota de cerveja se foi há pouco, era sonho, agora o desejo de que alguém segure minha mão logo e me tire dessa enfermidade horrível está me consumindo por completo.


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