sábado, 26 de março de 2011

Sossego

Eu estava ali, deitada na cama, de ponta a ponta com os pés na janela aberta, ouvindo música, olhando o céu, sozinha. Imaginando tantas coisas e refletindo sobre tantas outras, sozinha. Eu sempre fui uma pessoa muito sozinha, não por opção, isso deve ter nascido comigo. Hoje em dia já nem desejo tantos amigos ou alguém pra sempre estar comigo quando eu estiver precisando\querendo atenção. Mas eu estava ali, ouvindo aquelas músicas que mergulhavam pele adentro, até a alma. Lá no fundo tudo que eu conseguia ouvir eram umas cigarras e minha respiração.

   O mundo é tão grande, o universo é tão maior ainda, olha pra esse céu, dá pra sentir dizer alguma coisa, coisa que ninguém entende, nem eu. Mas eu estava ali, escutando sem entender muito bem, sozinha, olhando pra fora da janela com meus pés desfocados a beira dela. O vento encostava  em mim pra dizer: “Luana, você está sozinha”. Eu não sei o que é isso, mas eu queria você do meu lado, deitada ali comigo, me abraçando e vendo as mesmas coisas que eu via naquele momento. Escutando o céu no tom certo.

   Eu estava ali, doente, com moletons cobrindo até o que faltava de mim, sozinha. O pior é que eu parecia me derrubar em prantos por dentro, mas por fora... Por fora eu estava um mar de nada. Um mar de nada em contraste com o tudo que aquele céu queria me dizer. Uma das coisas que o mundo ali fora me dizia, era pra olhar os prédios e ver como as coisas cresciam, não entendi muito bem, mas entendi. Enquanto o céu faltava pouco gritar: “Luana, essa hora da noite, ela não está pensando em você”. Eu não quero saber se está ou não, tanto faz, isso é outra história, isso não parte de mim, o mundo inteiro já me faz lembrar e repete o tempo todo: “Luana, você está sozinha”.

   Eu estava ali, doente, sozinha, querendo atenção, sentindo o vento acariciar meu rosto. Olhando pro céu sem entender nada, só vendo a imensidão. Era noite, as cores não enganavam... O quarto escuro, a cama branca e vazia me lembrando: “Luana, você está sozinha”. E com tanto aviso, tanta coisa passando pela minha cabeça, tanta coisa pra me preocupar, eu ficava lembrando da sua risada gostosa, do seu sorriso bonito e dos seus braços quando me acolhiam.