terça-feira, 12 de outubro de 2010
As cores
Desaparecer... Isso soa mais agradável quando escuto o vento que insiste em cantar ao bater na persiana da janela desse lugar. É um canto macio com puxadas bruscas, que leva meu pensamento, tira de mim o barulho e o silêncio, esquece de mim assim como lembra, odeia e ama, vira e desvira, apaga e reescreve. Reescreve cada vez mais torto mesmo estando bonito, arranca os pedaços da página e devora-as.
Quero o nada... Quando procuro o nada, vejo como o preto, porém é branco de luz forte – confuso, eu sei – muito forte. Digo, o preto é ausência de cores, deveria ser meu nada, mas não... Até mesmo meu nada tem alguma coisa. Esse branco de luz forte, tudo ao redor é assim, e não é como se não existisse gravidade, apenas não existe direção. E quando saio do meu corpo, vejo que o nada é imenso, quanto mais me afasto do meu corpo, menos vejo onde estou. É o nada sem fim. Se eu volto ao corpo, fico cega por tanta claridade.
Virei cinza... Agora que sou cinza – vamos lá, não é branco ou preto – sou cinza... Não sou ausência das cores como o preto e também não sou todas as cores como o branco. E o que eu sou? Um metal gelado e brilhoso que fala como os antigos, e ama intensamente: o preto, o branco e o cinza.
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