domingo, 24 de outubro de 2010

Desabafo






Ninguém quer confissões aqui. E nem é, sabe? E nem é importante... Só um pouco... Um pouquinho. Como se ela tomasse um copo de cerveja, fumasse um Marlboro e mandasse uns três tomarem no cu. É mais ou menos isso... Isso aqui. Que não pretende ser confissão nem lembrança. Nem emocionante, nem inteligente. Nem valerá a sua presença aqui..

E não quero mais o que não posso ter. Assim estamos livres para sermos um. Só isso. Comuns são os casais. Nós não somos nada. O problema é que quero muitas coisas simples. Então pareço exigente. Não posso fazer nada. Então choro, paro, espero, te esporro com mil xingamentos. Você pode se divertir, você pode ter pena de mim.

Vamos...Vamos logo subir essa escada que leva o amor ao último andar. Então vamos. Segura firme no corrimão. Respire fundo. Subir tão alto dá vertigem e olhar para trás deixaria-nos cair. Os erros são medusas. Arrancam as nossas lembranças boas e tatuam os desaforos e mágoas. Por isso marche. Sinta o meu perfume enquanto o tempo sopra esse bafo de mudança.

Lembre-se ou esqueça-se de mim. Coração quebrado tem cura. A paz de não precisar mais aguardar a perfeição que não existe. Quero somente amortecer os erros e mudar de idéia. Quem sabe o por quê do que?

terça-feira, 12 de outubro de 2010

As cores



Desaparecer... Isso soa mais agradável quando escuto o vento que insiste em cantar ao bater na persiana da janela desse lugar. É um canto macio com puxadas bruscas, que leva meu pensamento, tira de mim o barulho e o silêncio, esquece de mim assim como lembra, odeia e ama, vira e desvira, apaga e reescreve. Reescreve cada vez mais torto mesmo estando bonito, arranca os pedaços da página e devora-as.
Quero o nada... Quando procuro o nada, vejo como o preto, porém é branco de luz forte – confuso, eu sei – muito forte. Digo, o preto é ausência de cores, deveria ser meu nada, mas não... Até mesmo meu nada tem alguma coisa. Esse branco de luz forte, tudo ao redor é assim, e não é como se não existisse gravidade, apenas não existe direção. E quando saio do meu corpo, vejo que o nada é imenso, quanto mais me afasto do meu corpo, menos vejo onde estou. É o nada sem fim. Se eu volto ao corpo, fico cega por tanta claridade.
Virei cinza... Agora que sou cinza – vamos lá, não é branco ou preto – sou cinza... Não sou ausência das cores como o preto e também não sou todas as cores como o branco. E o que eu sou? Um metal gelado e brilhoso que fala como os antigos, e ama intensamente: o preto, o branco e o cinza.

domingo, 10 de outubro de 2010

21 pontos das minhas noites

Acho que não existe amor mais, coisa assim. Deito pra dormir e tenho vontade de chorar a noite toda. Durmo quando o sol aparece, acordo quando escurece. Converso um pouco e continuo com a mesma sensação. Não por causa disso, mas eu nunca tive vontade de viver. Deito outra vez com vontade de chorar. Às vezes parece que você está do meu lado querendo me abraçar sem poder. Consigo dormir normalmente, acordo ainda é dia. Passo o tempo trancada no quarto com as persianas fechadas. Aqui dentro é tudo escuro, aqui dentro é bem vazio. Dói.
   Passo o dia cansada de nada, com sono. Fumo quase um maço inteiro todo dia, um câncer querendo destruir o outro. De noite o cansaço some, só existe minha varanda, o céu e você que não está ao meu lado. Eu não existo mais, nem vivo também. A lua está linda hoje, queria que você visse também, aqui. Perdi a hora enquanto estava lá fora, mas na verdade não perdi nada, não tenho nada a perder. Volto pro quarto e me tranco, tranco tudo, tranco com mil chaves. Ando aqui dentro pisando nas palavras que eu escrevo, esmagando qualquer coisa que eu sinto ou “penso em sentir”. Acho que não existe amor mais, coisa assim. Deito pra dormir e tenho vontade de chorar a noite toda.